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O Mundial da FIFA - 2000

    No início de 1999, a Hicks Muse Tate & Furst (HMTF) anunciou um contrato de parceria com o Corinthians, campeão brasileiro do ano anterior. Meses depois, adquiriu 49% da empresa Traffic, que era de total propriedade de J. Háwilla, considerado um “rei” entre os empresários do futebol.

    Háwilla continuou no comando da Traffic e, naquela época, sua empresa tinha uma boa relação comercial com a FIFA, que já há algum tempo demonstrava vontade de expandir seus negócios para o mercado interclubes. Aproveitando todo este cenário favorável, a HMTF, que também era dona do canal esportivo PSN, decidiu elaborar um torneio internacional, a fim de promover a marca Corinthians no cenário mundial. Atendendo aos interesses de seus parceiros e visando lucros, a FIFA, que já tinha planos de organizar um torneio do tipo,  acabou aceitando a idéia de realizar a competição no Brasil. Como não poderia deixar de ser, a Traffic foi a principal detentora dos direitos de exibição do chamado Campeonato Mundial de Clubes de 2000.

    Era preciso garantir torcida - e consequentemente dinheiro - no primeiro Campeonato Mundial de Clubes oficialmente organizado pela FIFA. Com a "escolha" de Rio de Janeiro e São Paulo como cidades-sede, num formato muito semelhante ao da Copa Rio dos anos 50, ficou "mais fácil" justificar a inclusão do Corinthians, que só participou do torneio porque os organizadores do mesmo eram seus novos parceiros e tinham exatamente esta intenção. Tanto que a surpreendente divulgação da realização deste campeonato - que ninguém imaginava que estava sendo elaborado -, já contemplando a participação do Corinthians, aconteceu em Junho de 1999, antes mesmo do Campeonato Brasileiro da temporada corrente começar, ou seja, o Timão tinha presença garantida na competição mesmo que fosse rebaixado para a segunda divisão nacional.

    O “argumento” usado pelos organizadores na época é que o Corinthians entraria por ser o campeão do país-sede. Mas como isso seria possível se o Campeonato Brasileiro de 1999 ainda não havia começado e em 1998 ninguém cogitava a realização de uma competição deste tipo no Brasil? A “desculpa” usada na época era de que "não haveria tempo para outro clube se preparar para o torneio, já que o campeonato nacional terminaria em Dezembro".

    Por coincidência ou ironia do destino, o Timão, que tinha um dos melhores times do Brasil na época, caminhou até a final do Campeonato Brasileiro de 1999 e sagrou-se bicampeão, ao derrotar o Atlético Mineiro - contradizendo o discurso dos organizadores sobre  a falta de tempo para a preparação para o torneio. Porém, conforme já citado anteriormente, vale destacar que em nenhum momento houve uma disputa pela vaga destinada ao campeão do país-sede no torneio, já que o Corinthians estava garantido desde a divulgação da sua realização.

    Além do Timão, o clube carioca Vasco da Gama também participou do torneio exclusivamente por conta de "negócios", relegando - mais uma vez - o critério esportivo a segundo plano. Na época, entre outros interesses, foi uma maneira de a CBF "agradecer" a Eurico Miranda, presidente do Vasco da Gama, por romper os negócios que tinha com a empresa de Pelé - desafeto da CBF e concorrente da Traffic. Assim como o Corinthians seria incluído por ter sido campeão brasileiro de 1998, nada mais "perfeito" para todas as partes indicar o Vasco - "coincidentemente" um clube da outra cidade-sede - como campeão sul-americano de 1998, ignorando o campeão da Copa Libertadores de 1999, que seria conhecido dias depois - o Palmeiras sagrou-se campeão após disputar a final contra o Deportivo Cali, da Colômbia.

    Resumidamente, o Corinthians recebeu um "convite de aceitação obrigatória" para participar de uma competição internacional, idealizada por seus parceiros, que "justificariam" sua inclusão na disputa pelo fato de ter sido o campeão nacional do país-sede do ano retrasado (1998). O mesmo critério foi aplicado para justificar a inclusão do Vasco da Gama,  já que não seria interessante financeiramente a presença de outro clube paulista - ou colombiano - numa competição disputada simultaneamente no Rio de Janeiro e em São Paulo. Vale destacar ainda que, por conta da falta de espaço no calendário dos clubes, o torneio foi disputado nos primeiros dias do ano 2000, em pleno verão brasileiro. Neste período, a maioria das equipes profissionais - inclusive as convidadas - estava em férias.

    Além disso, se a competição tivesse como objetivo dar ao seu vencedor o título de campeão do mundo – o que obviamente não era o caso –, não teríamos apenas a indicação de Corinthians e Vasco - convidados para atender aos interesses dos organizadores - como indevidas. Além deles, o All Nasr e o Real Madrid também “caíram de pára-quedas” no torneio.

    Para se ter uma idéia, o All Nasr, da Arábia Saudita, foi convidado por ter sido campeão de uma espécie de Recopa Asiática - não era o torneio continental e sim uma recopa - de 1998, sendo que o campeão continental de 1999 era o Júbilo Iwata, que também era o atual campeão da mesma recopa que "garantiu" o convite ao clube árabe.

    O espanhol Real Madrid foi convidado por ter sido campeão mundial interclubes do ano retrasado (1998), através da Copa Européia/Sul-Americana, que continuou sendo a principal disputa internacional de clubes até 2004. O "curioso" é que outro grande clube europeu, o Manchester United, campeão continental de 1999 - e posteriormente mundial através da mesma Copa Européia/Sul-Americana, em disputa contra o Palmeiras - também foi convidado e "caprichosamente" colocado no outro grupo, de modo a ser a grande atração internacional no grupo do Rio de Janeiro - e o Real Madrid disputou a primeira fase no grupo de São Paulo. Já o Palmeiras, mesmo que tivesse sido campeão mundial em 1999 diante do clube inglês, não participaria, de jeito nenhum, do Campeonato Mundial de Clubes da FIFA de 2000. Isso porque a entidade máxima do futebol e seus respectivos parceiros priorizaram o torneio exclusivamente como negócio, de acordo com seus interesses, não se preocupando, em nenhum momento, com a questão do mérito esportivo.

    Portanto, dos oito clubes que participaram deste campeonato, podemos dizer seguramente que, pelo menos, metade deles foram convidados indevidamente. Soma-se a isso o fato de não ser segredo para ninguém que esse torneio de 2000 quase causou um “racha” entre UEFA e FIFA. Clubes como Manchester United e até mesmo o Real Madrid se recusaram a participar da competição. A FIFA interveio e ameaçou punir os clubes europeus, se estes não viessem ao Brasil, o que acabou enfurecendo a entidade européia, que cogitou a realização de suas competições de maneira independente, sem o aval da FIFA, como a Eurocopa e a Champions League.

    Joseph Blatter viu que sua “teimosia” tinha ido longe demais e tentou colocar “panos quentes” para amenizar a situação. Afinal, depois da Copa do Mundo, a Eurocopa e a Champions League são as competições mais rentáveis, além de ser um absurdo imaginarmos a realização da Copa do Mundo sem a presença dos europeus.

    Aliás, por falar em absurdo e em clube europeu, não podemos ignorar o fato de que se o Manchester United tivesse faturado também o torneio da FIFA, "correríamos o risco" dele se considerar "bicampeão mundial em menos de dois meses". Isso mesmo! O clube inglês disputou o indiscutível mundial de 1999 em 30 de Novembro e o mundial da FIFA - do qual acabou eliminado ainda na primeira fase - encerrou-se em 14 de Janeiro de 2000.

    Seria um absurdo imaginarmos uma situação dessas, não seria - ou estamos exagerando? Mas como não foi o Manchester o campeão - ou bicampeão em dois meses -, muitas pessoas sugerem ao RCB que também conceda a pontuação "cheia" dos mundiais - 90 pontos, ao invés da metade disso - ao Corinthians, campeão desta edição. No entanto, o objetivo do RCB é exclusivamente retratar a história - e a classificação dos clubes - do futebol brasileiro da maneira mais justa e coerente com a realidade dos fatos, atribuindo pontuações condizentes aos torneios, de acordo com aquilo que representaram, na época em que foram disputados.

    Portanto, considerando todos os fatos acima mencionados, aliado a todas as possibilidades absurdas que este torneio poderia proporcionar - o Manchester foi apenas um dos exemplos -, não há como equipará-lo ao que consideramos como um "legítimo mundial" só porque um clube brasileiro, no caso o Corinthians, foi o campeão - e não o Manchester United.

    A repercussão do torneio pelo mundo, antes mesmo de a bola rolar, também não foi das melhores. Para exemplificarmos isso, veja esta imagem reproduzida do site da CNN, de 6 de Janeiro de 2000.

Foto: Reprodução

Convites Infames: Fifa ignora o mérito na escolha de equipes para o “Brasil-2000”, diz a manchete.

    Na referida matéria, escrita antes de a bola rolar, o site ainda tenta dar um voto de confiança à FIFA, mas destaca a falta de critério na escolha dos clubes participantes, o transtorno causado no calendário, a falta de vontade dos ingleses e enfatiza ainda que se trata de um torneio que ninguém levará a sério. Inclusive, ressalta que “não é para nos admirarmos se tivermos uma final entre brasileiros”.

    No Brasil, também era quase que unanimidade que este torneio já nascia comprometido, sem representatividade e com valor menor que a Copa Européia/Sul-Americana. E dentro de campo aconteceu o esperado. Real Madrid e Manchester United, em ritmo de excursão, foram apenas figurantes e, assim como adiantara a matéria da CNN, a final foi mesmo realizada entre os dois clubes brasileiros, com o Corinthians sagrando-se vencedor, após bater o Vasco da Gama nos pênaltis.

    Curiosamente, apenas para informação, o caminho do Corinthians até o título foi contra todos os times que "não deveriam" participar do torneio, com exceção ao Raja Casablanca, que teria “direito” de participar de um “mundial de verdade” naquele ano, usando como base o atual modelo do mundial interclubes, que começou a partir de 2005.

Foto: Agência / AFP

A taça recebida pelo Corinthians também não é igual à taça oferecida pela FIFA a partir de 2005 para os legítimos campeões do mundo.

    Apesar de contar com grandes times, Blatter sabe que a competição não teve uma boa aceitação e que a UEFA não iria se curvar às suas decisões. Por este motivo, aliado à quebra de um dos patrocinadores (a ISL), a entidade máxima do futebol cancelou o próximo torneio, que seria disputado em 2001, na Espanha. Surgiram boatos de que o campeonato voltaria em 2003, mas a hipótese rapidamente foi rechaçada, principalmente pela UEFA.

    Por todos estes motivos citados, consideramos a competição conquistada em 2000 pelo Corinthians no ranking como de valor secundário no âmbito mundial, ou seja, tal feito não rende ao Timão o título de campeão do mundo, pois a competição designada para tal naquela época era a Copa Européia/Sul-Americana, vencida em 1999 pelo Manchester United, da Inglaterra, e em 2000 pelo Boca Juniors, da Argentina.

    Inclusive, a própria FIFA, quando criou o novo mundial interclubes, em 2005, colocou o título corintiano à parte em seu site oficial, como uma competição de importância menor e que nunca mais será disputada. Além disso, muitas foram as vezes em que a entidade máxima do futebol "esqueceu" da competição organizada por ela própria em 2000, no Brasil. Apenas para exemplificarmos isso, veja as imagens abaixo, reproduzidas dos sites UOL e FIFA, respectivamente.

Foto: Reprodução

Notícia veiculada no UOL, referente à apresentação do novo mundial interclubes, em 2005.

Foto: Reprodução

Notícia veiculada no site da FIFA trata o torneio de 2008 como a quarta edição, "esquecendo-se" de 2000.

    Para finalizarmos este assunto de maneira resumida, podemos considerar que o torneio mundial conquistado em 2000 pelo Corinthians está para o mundo o que a Copa Sul-Americana está para a América do Sul e o que a Copa do Brasil está para o Brasil, ou seja, trata-se de uma competição oficial, porém de menor importância em seu âmbito de disputa.

    A nomenclatura do torneio também pouco importa, pois o verdadeiro campeão sul-americano é o vencedor da Copa Libertadores da América e não o da Copa Sul-Americana. Portanto, independentemente das opiniões e gafes da FIFA, o nosso compromisso é com a história, e ela nos mostra que o Corinthians não conquistou o mundo em 2000.

A Copa Intercontinental | A Copa do Mundo de Clubes da FIFA

 

 

 

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