|
||
A criação do rebaixamento e a polêmica de 1987
Foi em 1986 que a CBF instituiu, pela primeira vez de forma oficial, o rebaixamento - para desinchar a competição. Mas o campeonato, chamado novamente de “Copa Brasil”, foi uma verdadeira bagunça - tavez o mais desorganizado de toda a história. Alguns clubes ganharam e perderam pontos por conta de caso de doping na primeira fase, outros entraram na justiça por se sentirem prejudicados, e no fim das contas o regulamento foi alterado durante o torneio.
Afinal, quem é o campeão brasileiro de 1987? Agora sim, chegamos ao assunto mais polêmico da história do chamado "Campeonato Brasileiro". Quem é o verdadeiro campeão de 1987: Sport ou Flamengo? A CBF, a FIFA, a justiça e mais uma minoria da imprensa - pelo menos em São Paulo e Rio de Janeiro - dizem que foi o Sport. Já grande parte da imprensa e das pessoas cita o Flamengo. Afinal, quem tem razão?
Confira a nossa
análise e descubra o que, de fato, aconteceu.
Vale ressaltar que os jogos de ambos os módulos só
passaram a ser disputados após o acordo, que também previa rebaixamento (saiba
mais detalhes abaixo). Portanto, é mentirosa a afirmação de
que a “Copa União” estava em pleno andamento quando a CBF impôs o novo
regulamento – que previa que os dois melhores times de cada módulo disputassem
um quadrangular decisivo para definir o campeão nacional (da Copa Brasil). Para efeitos de comparação, seria o mesmo que o campeão da Taça Libertadores ou da Champions League se recusar a participar do Mundial de Clubes - que também envolve times menos expressivos de outros continentes - e, mesmo assim, se considerar campeão do mundo, ignorando totalmente o regulamento do torneio que dá ao seu vencedor esse título. Seria um absurdo, não é mesmo? De modo geral, podemos dizer que o C13 se apoiava nessas resoluções do CND, e considerava que a maioria simples dos votos qualitativos - ou seja, com pesos diferentes - no "Conselho Arbitral dos Clubes" lhe possibilitaria alterações no regulamento da Copa Brasil de 1987, o que consequentemente acabaria homologando o vencedor do Módulo Verde como o campeão brasileiro daquele ano. Vale destacar também que naquela época cogitava-se o impeachment dos dirigentes da CBF. E enquanto isso, o C13 se fortalecia, e já articulava planos mais ousados para um futuro próximo. A idéia principal, conforme notícia do Jornal dos Sports, de 04/11/1987, era a criação da chamada "Federação Brasileira de Futebol Profissional", que visava tomar a organização do futebol brasileiro para si. A confiança dos dirigentes do C13 era tão grande, que eles debochavam publicamente do regulamento da competição vigente, e estavam certos de que, no final das contas, alterariam as regras do jogo da maneira que bem entendessem no "Conselho Arbitral dos Clubes". Por esse motivo, Flamengo e Internacional decidiram o Módulo Verde - ou Copa União - como se fosse a legítima decisão do Campeonato Brasileiro. Mas não era. A própria imprensa - entusiasta dos propósitos do C13 - fazia essa observação. Pois bem, não importava o que acontecesse, nada mudaria o posicionamento do C13 naquele momento. Dentro de campo, o Flamengo faturou o Módulo Verde, fez uma grande festa "de campeão", e o caso foi mesmo parar longe dos gramados, no tal "Conselho Arbitral" - a contragosto da CBF, que precisou ser intimada para convocar a reunião. Porém, o C13 - que contava com o apoio da opinião pública, e pensava estar acima do bem e do mal na questão da organização do futebol - não havia se atentado a todas as "regras" para conseguir o que pleiteava, e acabou surpreendido. Como a CBF havia feito todas as devidas notificações sobre o regulamento de 1987 - incluindo as ressalvas - ao CND, qualquer alteração que fosse contrária aos desejos da entidade máxima do futebol nacional precisaria ser aprovada por unanimidade, e não apenas pela maioria dos votos qualitativos. Sendo assim, o C13 obteve a maioria dos votos - como era esperado -, mas por conta dessa obrigatoriedade - endossada através de liminares da CBF e do próprio Sport do Recife, apresentadas na mesma reunião -, ficou confirmada a necessidade do cruzamento entre os módulos para se definir o campeão brasileiro.
Mesmo com o revés, o C13 - que já havia se envolvido em
polêmicas até mesmo com a FIFA, por conta de um patrocínio irregular da
Coca-Cola durante a competição - mostrou-se irredutível, e em nome de uma suposta
"modernidade", decidiu definitivamente rasgar o livro de regras e
afrontar a CBF. Consequentemente, com a desistência
de Internacional e Flamengo
em cumprirem o regulamento, foi organizada uma decisão entre
Sport e Guarani,
que determinou o clube pernambucano como campeão brasileiro de 1987, e garantiu
ambos como representantes do Brasil na Taça Libertadores
de 1988. Foto: Sport Club do Recife
Taça de campeão brasileiro, com a inscrição: "Copa Brasil 1987 - Troféu Caixa Econômica Federal".
Houve descenso em 1987? Vale ressaltar que os clubes do Módulo Amarelo ainda tiveram o "cuidado" de aguardar a homologação e a segurança jurídica do regulamento - que já estava acordado entre todas as partes -, antes de entrarem em campo. Por esse motivo, a disputa dos jogos desse módulo começou com alguns dias de "atraso". Imagens:
Felipe Virolli / RankingDeClubes.com.br Acontece que, conforme explicado anteriormente, algumas resoluções do Conselho Nacional de Desportos (CND) voltaram a vigorar, e isso encorajou o C13 a "ignorar" alguns itens (não todos) do regulamento vigente, dentre eles o rebaixamento - embora o presidente do São Paulo e do C13, Carlos Miguel Aidar, tenha demonstrado alguma preocupação com o assunto, em entrevista para o Jornal dos Sports, em 25/09/1987. Porém, neste caso, a CBF não demonstrou muito interesse em comprar a briga. Aliás, pelo contrário. Ainda durante a competição, passou a admitir publicamente que a formação da primeira divisão de 1988 - com 20 clubes, de acordo com a exigência do CND - poderia ser discutida no "Conselho Arbitral dos Clubes", conforme desejava o C13 - que tinha a maioria dos votos qualitativos. Portanto, podemos dizer que, em determinado momento, o rebaixamento passou - pelo menos informalmente - a ser "coisa do passado" para os grandes clubes, pois se algum deles fosse rebaixado no Módulo Verde - conforme previa o regulamento -, seria possível reverter a situação. Com isso, a maior parte da imprensa "comprou a idéia" de que o acesso e o descenso para o ano seguinte ainda não estavam definidos, e passou a considerar - precipitadamente e sem qualquer segurança jurídica - que não haveria rebaixamento de nenhum integrante do Módulo Verde - apenas pelo fato de os clubes desse grupo representarem a maioria dos tais votos qualitativos. O C13 chegou a pressionar a CBF para que convocasse logo o "Conselho Arbitral" e decidisse de vez essa questão. Porém, a entidade máxima do futebol nacional tinha receio que esse conselho deliberasse outras alterações no regulamento vigente, especialmente sobre o cruzamento que definiria o campeão brasileiro - o C13 tinha total interesse em cancelar essa disputa, e já a ignorava da mesma forma que o rebaixamento. Por isso, essa convocação sempre foi adiada. Enquanto a questão não era resolvida, a bola continuou rolando normalmente e, ao final da fase de classificação, Santos e Corinthians ocupavam as duas últimas colocações do Módulo Verde - e estariam rebaixados, de acordo com o regulamento vigente. Naquele momento, o Vasco ainda corria o risco de perder alguns pontos - por conta de ter escalado um jogador de maneira supostamente irregular -, o que acabaria beneficiando o Santos. No entanto, essa possibilidade não se confirmou - e foi totalmente descartada na semana seguinte, por ocasião de uma decisão judicial favorável ao clube carioca, que lhe garantiu o direito de manter sua pontuação. Já Goiás e Santa Cruz precisariam disputar - numa espécie de repescagem - duas vagas pela permanência na primeira divisão com Portuguesa e Inter de Limeira, participantes do Módulo Amarelo. Naquela época, com tanta bagunça, tumulto e muitas incertezas, o "assunto do momento" era mesmo a fase final do Módulo Verde, e a consequente realização - ou não - do quadrangular que definiria o campeão daquele ano. Por incrível que pareça, a questão do rebaixamento tornou-se praticamente irrelevante - embora o Vasco tenha buscado a justiça para não se prejudicar na tabela de classificação final. Os próprios jornais da época também pouco abordavam sobre o assunto - a maioria da imprensa apoiava as causas e idéias do C13 e, conforme mencionado anteriormente, também considerava que as regras de acesso e descenso ainda não estavam definidas. No entanto, vale destacar a coluna de Washington Rodrigues, do Jornal dos Sports, em 23/12/87, na qual ele crava que haveria mesmo uma "virada de mesa", e que já por conta disso não tinha sido disputada a "repescagem" prevista no regulamento - que ele menciona no final do texto como "quadrangular decisivo". Pois é.
Com relação à fórmula preferida pelo C13 - que contava com
a conivência da CBF e do CND -,
a mesma visava justamente a manutenção dos 16 clubes do Módulo Verde na
primeira divisão, e incluiria apenas os quatro melhores do Módulo Amarelo -
contrariando o regulamento da competição de 1987, que garantia pelo menos seis
vagas aos clubes desse módulo na primeira divisão do ano seguinte. Ou seja, a
espécie de "virada de mesa" - que salvaria especialmente Santos e Corinthians do rebaixamento
- já estava
devidamente articulada - e pronta para ser executada. No entanto, por conta do
imbróglio sobre a realização - ou não - do quadrangular que definiria
o campeão brasileiro, o tema não conseguiu ser apreciado na primeira
reunião do "Conselho Arbitral de Clubes", em janeiro de 1988.
Diante desse impasse, as ameaças de ações e liminares dos clubes descontentes
- especialmente dos que tinham garantido o direito de se manterem na
primeira divisão, de acordo com o que previa o regulamento de 1987 - colocaram em dúvida a realização da competição
de 1988. Eduardo Vianna, conhecido pelo apelido de "Caixa d´Água", presidente da FERJ (Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro), tinha uma proposta para que a primeira divisão fosse disputada por 24 clubes - algo totalmente em desacordo com as resoluções do
CND, embora pudesse ser "conciliadora". Porém, como naquela época "nem sempre o regulamento era feito para ser cumprido" - aliás, podemos dizer que "era feito para ser rasgado" -, tal alternativa jamais foi cogitada publicamente pela CBF, pois além da possibilidade de causar outra enorme briga com o C13 - o que também colocaria em risco a realização do campeonato -, não era interessante para a própria competição a ausência de clubes como Santos e Corinthians. Além deles, Flamengo e Internacional também corriam algum risco de punição, pelo fato de terem desistido de jogar o quadrangular final - no entanto, como o caso já havia sido discutido no "Conselho Arbitral", e a desistência da dupla ainda estava amparada por liminares na época desses jogos, o risco de uma punição mais grave estava bastante reduzido, embora a CBF estivesse bastante indignada com algumas atitudes do clube carioca. Pressionada por todos os lados, fato é que a CBF tinha o compromisso moral de garantir os direitos dos clubes que obtiveram em campo a permanência na primeira divisão - e com isso evitar outra indisposição com os "menos privilegiados". Mas, como podemos ver, a tarefa não era das mais fáceis, e envolvia diversos interesses.
Para resolver a questão e acalmar os ânimos de uma vez,
teve que entrar em cena novamente o famoso "jeitinho brasileiro". E depois de muita discussão, finalmente a CBF, o C13 e o CND fecharam um acordo para que 24 clubes disputassem a primeira divisão em
1988 - conforme já havia sugerido o presidente da FERJ. Vale destacar que, para isso acontecer, foi necessário "rasgar" algumas
resoluções do CND - justamente as que permitiram mais poder aos clubes, e que consequentemente
geraram toda essa
"confusão". Parece piada, mas não é. Outra situação que merece ser destacada é que, como a CBF obteve essas "duas vagas a mais" - afinal, apenas seis, de fato, estavam garantidas pelo regulamento aos clubes daquele módulo -, acabou destinando uma delas ao América do Rio de Janeiro, que não havia disputado o campeonato em 1987 por não concordar com o regulamento - fato que também era passível de punição. Com isso, a Inter de Limeira, oitava colocada do Módulo Amarelo em 1987 - que pelo regulamento ainda precisaria passar pela repescagem para continuar sonhando com a permanência na primeira divisão -, foi preterida e teve que disputar a segunda divisão no ano seguinte.
|
||
|
||
Home | Mais Rankings | Sistema de Pontuação | Competições | Contato |
||
|
||
Ranking de Clubes Brasileiros - Todos os direitos reservados |