Home      |      Mais Rankings      |      Sistema de Pontuação      |      Competições      |      Contato

 

 

 

A criação do rebaixamento e a polêmica de 1987

    Foi em 1986 que a CBF instituiu, pela primeira vez de forma oficial, o rebaixamento - para desinchar a competição. Mas o campeonato, chamado novamente de “Copa Brasil”, foi uma verdadeira bagunça - tavez o mais desorganizado de toda a história. Alguns clubes ganharam e perderam pontos por conta de caso de doping na primeira fase, outros entraram na justiça por se sentirem prejudicados, e no fim das contas o regulamento foi alterado durante o torneio.

    No total, foram 48 times na disputa, sendo que 44 deles iniciaram a competição desde a primeira fase. Destes, 12 foram rebaixados já nessa primeira fase - o previsto era o rebaixamento de 16 clubes, mas a alteração do regulamento 
beneficiou alguns deles. Os 32 clubes restantes - que não foram rebaxiados - classificaram-se para a segunda-fase, juntamente com outros 4 clubes promovidos do “módulo paralelo”, que não tinha nome nesta edição. A segunda fase, portanto, contou com 36 clubes divididos em quatro grupos - foi estabelecido que os dois últimos colocados de cada grupo também seriam rebaixados, conforme já previa o regulamento.

    De modo geral, foi uma competição desgastante, que começou em 30 de agosto de 1986 e terminou em 25 de fevereiro de 1987.

E o rebaixamento?

    O regulamento previa que os clubes eliminados na primeira fase estavam automaticamente rebaixados - sem possibilidade de disputarem o título do ano seguinte -, assim como os dois últimos colocados de cada grupo da segunda fase.

    Curiosamente, entre os oito clubes que foram rebaixados na segunda fase estava o Botafogo. A "sorte" do clube carioca é que, com a incapacidade da CBF em organizar o campeonato do ano seguinte, os considerados "maiores clubes brasileiros" se uniram para criar o chamado "Clube dos 13 (C13)", que tinha como objetivo revolucionar o futebol.

    Com isso, o Botafogo - um dos fundadores do "C13" - se beneficiou da bagunça e, mesmo rebaixado no ano anterior, garantiu lugar na Copa União, que até então seria o "Campeonato Brasileiro" de 1987.

    Portanto, na teoria o rebaixamento existiu, mas na prática não foi cumprido.

Afinal, quem é o campeão brasileiro de 1987?

    Agora sim, chegamos ao assunto mais polêmico da história do chamado "Campeonato Brasileiro". Quem é o verdadeiro campeão de 1987: Sport ou Flamengo?

    A CBF, a FIFA, a justiça e mais uma minoria da imprensa - pelo menos em São Paulo e Rio de Janeiro - dizem que foi o Sport. Já grande parte da imprensa e das pessoas cita o Flamengo. Afinal, quem tem razão?

    Confira a nossa análise e descubra o que, de fato, aconteceu.

    Em 1987, uma revolução aconteceu no futebol nacional. A CBF, mal administrada e sem recursos, declarou-se incapaz de promover o campeonato daquele ano. Isso levou os principais clubes do país a criarem, em 11 de julho, uma liga independente, chamada de Clube dos 13 (C13), que prontamente formulou a “Copa União”, com os times da “panela” e mais três convidados - por sugestão da própria CBF. Porém, pressionada – e com razão – pelos clubes que ficaram de fora da nova competição, a CBF voltou atrás de sua decisão, em 14 de julho, e iniciou uma briga com o recém-criado C13, para poder discutir um novo formato para a competição nacional.

    Seguiram-se quase dois meses de discussões. Até que, no início de setembro, ficou acordado entre CBF e C13 um campeonato com 32 clubes, divididos em dois módulos: o Verde, com os 16 times convidados pelo C13, e o Amarelo, com outros 16 times, escolhidos com base na classificação do campeonato do ano anterior e no tal “ranking histórico” da entidade máxima do futebol nacional, a CBF - o que acabou beneficiando, entre outros, o próprio Sport, que, assim como o Botafogo, também havia sido rebaixado na segunda fase do campeonato de 1986.

    Vale ressaltar que os jogos de ambos os módulos só passaram a ser disputados após o acordo, que também previa rebaixamento (saiba mais detalhes abaixo). Portanto, é mentirosa a afirmação de que a “Copa União” estava em pleno andamento quando a CBF impôs o novo regulamento – que previa que os dois melhores times de cada módulo disputassem um quadrangular decisivo para definir o campeão nacional (da Copa Brasil).

    Na época, o acordo foi claro - e amplamente divulgado pela imprensa - entre ambas as partes (CBF e C13) e assinado, inclusive, por Eurico Miranda. A confusão só aconteceu porque - logo no início da competição - algumas resoluções do Conselho Nacional de Desportos (CND) - criado justamente para tentar organizar o "bagunçado" futebol brasileiro - voltaram a vigorar, e sugeriam um poder maior aos clubes, especialmente aos membros do Módulo Verde (C13), que a partir daí combinaram entre si que não fariam mais o cruzamento final com os dois finalistas do Módulo Amarelo para decidir o campeão brasileiro, conforme previa o regulamento.

    Para efeitos de comparação, seria o mesmo que o campeão da Taça Libertadores ou da Champions League se recusar a participar do Mundial de Clubes - que também envolve times menos expressivos de outros continentes - e, mesmo assim, se considerar campeão do mundo, ignorando totalmente o regulamento do torneio que dá ao seu vencedor esse título. Seria um absurdo, não é mesmo?

    De modo geral, podemos dizer que o C13 se apoiava nessas resoluções do CND, e considerava que a maioria simples dos votos qualitativos - ou seja, com pesos diferentes - no "Conselho Arbitral dos Clubes" lhe possibilitaria alterações no regulamento da Copa Brasil de 1987, o que consequentemente acabaria homologando o vencedor do Módulo Verde como o campeão brasileiro daquele ano.

    Vale destacar também que naquela época cogitava-se o impeachment dos dirigentes da CBF. E enquanto isso, o C13 se fortalecia, e já articulava planos mais ousados para um futuro próximo. A idéia principal, conforme notícia do Jornal dos Sports, de 04/11/1987, era a criação da chamada "Federação Brasileira de Futebol Profissional", que visava tomar a organização do futebol brasileiro para si.

    A confiança dos dirigentes do C13 era tão grande, que eles debochavam publicamente do regulamento da competição vigente, e estavam certos de que, no final das contas, alterariam as regras do jogo da maneira que bem entendessem no "Conselho Arbitral dos Clubes". Por esse motivo, Flamengo e Internacional decidiram o Módulo Verde - ou Copa União - como se fosse a legítima decisão do Campeonato Brasileiro. Mas não era. A própria imprensa - entusiasta dos propósitos do C13 - fazia essa observação.

    Pois bem, não importava o que acontecesse, nada mudaria o posicionamento do C13 naquele momento. Dentro de campo, o Flamengo faturou o Módulo Verde, fez uma grande festa "de campeão", e o caso foi mesmo parar longe dos gramados, no tal "Conselho Arbitral" - a contragosto da CBF, que precisou ser intimada para convocar a reunião. Porém, o C13 - que contava com o apoio da opinião pública, e pensava estar acima do bem e do mal na questão da organização do futebol - não havia se atentado a todas as "regras" para conseguir o que pleiteava, e acabou surpreendido. Como a CBF havia feito todas as devidas notificações sobre o regulamento de 1987 - incluindo as ressalvas - ao CND, qualquer alteração que fosse contrária aos desejos da entidade máxima do futebol nacional precisaria ser aprovada por unanimidade, e não apenas pela maioria dos votos qualitativos.

    Sendo assim, o C13 obteve a maioria dos votos - como era esperado -, mas por conta dessa obrigatoriedade - endossada através de liminares da CBF e do próprio Sport do Recife, apresentadas na mesma reunião -, ficou confirmada a necessidade do cruzamento entre os módulos para se definir o campeão brasileiro.

    Mesmo com o revés, o C13 - que já havia se envolvido em polêmicas até mesmo com a FIFA, por conta de um patrocínio irregular da Coca-Cola durante a competição - mostrou-se irredutível, e em nome de uma suposta "modernidade", decidiu definitivamente rasgar o livro de regras e afrontar a CBF. Consequentemente, com a desistência de Internacional e Flamengo em cumprirem o regulamento,  foi organizada uma decisão entre Sport e Guarani, que determinou o clube pernambucano como campeão brasileiro de 1987, e garantiu ambos como representantes do Brasil na Taça Libertadores de 1988.

    Mesmo assim, após a decisão da CBF, da FIFA, de o Sport ter ido à Libertadores e ter recebido o troféu de campeão nacional, o Flamengo levou o caso à Justiça. E o veredicto mais uma vez foi favorável ao clube pernambucano. Portanto, em todas as esferas e instâncias possíveis, o Sport é o legítimo e único campeão brasileiro de 1987. Inclusive, esta é a opinião do Ranking de Clubes Brasileiros (RCB), que não duvida que o Módulo Verde tenha reunido os principais times do país. No entanto, o que vale é o que é de direito. E de fato e de direito, o título brasileiro de 1987 é do Sport Recife, restando ao glorioso Flamengo apenas a "conquista" da Copa União, que originalmente nasceu para ser uma liga independente, mas acabou submetida - pelo próprio C13 - às regras normativas, ao tribunal, aos árbitros, à organização, ao regulamento e à chancela da CBF, que comprovadamente a inseriu como apenas um dos módulos do seu campeonato. Por conta disso, esse "triunfo" do clube carioca não é - e não pode ser - contabilizado em nossos rankings - embora seja um marco na história do futebol brasileiro.

Foto: Sport Club do Recife

Taça de campeão brasileiro, com a inscrição: "Copa Brasil 1987 - Troféu Caixa Econômica Federal".

Módulo amarelo: Segunda Divisão?

    É um absurdo dizer que o módulo amarelo representava a segunda divisão. Conforme já analisamos, na época não existia segunda divisão e, se existisse, o Botafogo - membro do C13 - também deveria participar dela. Aliás, como poderia o Guarani, vice-campeão nacional de 1986, disputar a segunda divisão em 1987? Além dele, outros clubes que jogaram o módulo amarelo também eram importantes no cenário nacional - inclusive com pontuações maiores no tal "ranking histórico" do que alguns times convidados pelo C13 a participar da Copa União.

    Para se ter uma idéia, dos 28 clubes que permaneceram na primeira divisão em 1986, 14 integraram o módulo verde, e outros 14 integraram o módulo amarelo - ou seja, apenas dois clubes de cada módulo (Botafogo e Coritiba, no módulo verde, e Sport e Vitória, no módulo amarelo) não pertenceriam à primeira divisão, se a versão final do regulamento de 1986 fosse seguida à risca.

    Portanto, qualquer tipo de afirmação no sentido de menosprezar o módulo amarelo deve ser desconsiderada, pois o mesmo jamais representou a segunda divisão daquele ano.
O futebol brasileiro estava muito desorganizado naquela época - e às vezes até hoje ainda é -, e o fato de o Sport ter sido rebaixado num ano (1986) e campeão no outro (1987) - jogando por um módulo teoricamente "mais fácil" - pode ser bizarro, mas não é inédito - e também não faz o título valer menos. No Campeonato Paulista, por exemplo, algo parecido aconteceu com o São Paulo, nos anos 90 - só para mencionarmos outro caso dos mais famosos.

    Existiam também os módulos branco e azul. Estes sim, na prática, eram parte de uma segunda divisão – com clubes menos expressivos –, embora oficialmente ela não existisse. Assim sendo, não cabe nenhuma comparação do módulo amarelo com o que conhecemos por "segunda divisão", e o título conquistado pelo Sport é legítimo e incontestável.

Houve descenso em 1987?

    Pouca gente sabe, e a mídia convencional praticamente ignora, mas uma das grandes batalhas dos clubes do Módulo Amarelo com a CBF e o C13 - também antes de a bola rolar - foi justamente a inclusão dos critérios de acesso e descenso para o ano de 1988.

    O regulamento oficial da chamada Copa Brasil de 1987 - bem como seus anexos e RDIs (Resoluções da Diretoria, que são normas próprias estabelecidas pela CBF, para adoção de todos os seus filiados) -, acordado entre CBF e C13 - na mesma reunião que definiu o cruzamento entre os finalistas de cada módulo para se apurar o campeão brasileiro -, previa o rebaixamento de pelo menos dois clubes do Módulo Verde, e de pelo menos oito clubes do Módulo Amarelo. Outros quatro clubes - dois de cada módulo - disputariam duas vagas na primeira divisão através de uma espécie de repescagem.

    Vale ressaltar que os clubes do Módulo Amarelo ainda tiveram o "cuidado" de aguardar a homologação e a segurança jurídica do regulamento - que já estava acordado entre todas as partes -, antes de entrarem em campo. Por esse motivo, a disputa dos jogos desse módulo começou com alguns dias de "atraso".

Imagens: Felipe Virolli / RankingDeClubes.com.br

Jornais da época confirmam que o regulamento também previa o rebaixamento.

    Acontece que, conforme explicado anteriormente, algumas resoluções do Conselho Nacional de Desportos (CND) voltaram a vigorar, e isso encorajou o C13 a "ignorar" alguns itens (não todos) do regulamento vigente, dentre eles o rebaixamento - embora o presidente do São Paulo e do C13, Carlos Miguel Aidar, tenha demonstrado alguma preocupação com o assunto, em entrevista para o Jornal dos Sports, em 25/09/1987. Porém, neste caso, a CBF não demonstrou muito interesse em comprar a briga. Aliás, pelo contrário. Ainda durante a competição, passou a admitir publicamente que a formação da primeira divisão de 1988 - com 20 clubes, de acordo com a exigência do CND - poderia ser discutida no "Conselho Arbitral dos Clubes", conforme desejava o C13 - que tinha a maioria dos votos qualitativos.

    Portanto, podemos dizer que, em determinado momento, o rebaixamento passou - pelo menos informalmente - a ser "coisa do passado" para os grandes clubes, pois se algum deles fosse rebaixado no Módulo Verde - conforme previa o regulamento -, seria possível reverter a situação. Com isso, a maior parte da imprensa "comprou a idéia" de que o acesso e o descenso para o ano seguinte ainda não estavam definidos, e passou a considerar - precipitadamente e sem qualquer segurança jurídica - que não haveria rebaixamento de nenhum integrante do Módulo Verde - apenas pelo fato de os clubes desse grupo representarem a maioria dos tais votos qualitativos.

    O C13 chegou a pressionar a CBF para que convocasse logo o "Conselho Arbitral" e decidisse de vez essa questão. Porém, a entidade máxima do futebol nacional tinha receio que esse conselho deliberasse outras alterações no regulamento vigente, especialmente sobre o cruzamento que definiria o campeão brasileiro - o C13 tinha total interesse em cancelar essa disputa, e já a ignorava da mesma forma que o rebaixamento. Por isso, essa convocação sempre foi adiada.

    Enquanto a questão não era resolvida, a bola continuou rolando normalmente e, ao final da fase de classificação, Santos e Corinthians ocupavam as duas últimas colocações do Módulo Verde - e estariam rebaixados, de acordo com o regulamento vigente. Naquele momento, o Vasco ainda corria o risco de perder alguns pontos - por conta de ter escalado um jogador de maneira supostamente irregular -, o que acabaria beneficiando o Santos. No entanto, essa possibilidade não se confirmou - e foi totalmente descartada na semana seguinte, por ocasião de uma decisão judicial favorável ao clube carioca, que lhe garantiu o direito de manter sua pontuação. Já Goiás e Santa Cruz precisariam disputar - numa espécie de repescagem - duas vagas pela permanência na primeira divisão com Portuguesa e Inter de Limeira, participantes do Módulo Amarelo.

    Naquela época, com tanta bagunça, tumulto e muitas incertezas, o "assunto do momento" era mesmo a fase final do Módulo Verde, e a consequente realização - ou não - do quadrangular que definiria o campeão daquele ano. Por incrível que pareça, a questão do rebaixamento tornou-se praticamente irrelevante - embora o Vasco tenha buscado a justiça para não se prejudicar na tabela de classificação final. Os próprios jornais da época também pouco abordavam sobre o assunto - a maioria da imprensa apoiava as causas e idéias do C13 e, conforme mencionado anteriormente, também considerava que as regras de acesso e descenso ainda não estavam definidas. No entanto, vale destacar a coluna de Washington Rodrigues, do Jornal dos Sports, em 23/12/87, na qual ele crava que haveria mesmo uma "virada de mesa", e que já por conta disso não tinha sido disputada a "repescagem" prevista no regulamento - que ele menciona no final do texto como "quadrangular decisivo". Pois é.

    Com relação à fórmula preferida pelo C13 - que contava com a conivência da CBF e do CND -, a mesma visava justamente a manutenção dos 16 clubes do Módulo Verde na primeira divisão, e incluiria apenas os quatro melhores do Módulo Amarelo - contrariando o regulamento da competição de 1987, que garantia pelo menos seis vagas aos clubes desse módulo na primeira divisão do ano seguinte. Ou seja, a espécie de "virada de mesa" - que salvaria especialmente Santos e Corinthians do rebaixamento - já estava devidamente articulada - e pronta para ser executada. No entanto, por conta do imbróglio sobre a realização - ou não - do quadrangular que definiria o campeão brasileiro, o tema não conseguiu ser apreciado na primeira reunião do "Conselho Arbitral de Clubes", em janeiro de 1988.

    Com a iminência de mais essa "virada de mesa", os clubes que se sentiram prejudicados com a nova fórmula proposta - ainda pendente de aprovação, mas já amplamente divulgada pelos veículos de comunicação - reagiram, e novamente começaram a pressionar a CBF. Até mesmo outros clubes, que nada tinham a ver com a história, tentavam encontrar alguma "brecha" para se beneficiarem da situação.

    Diante desse impasse, as ameaças de ações e liminares dos clubes descontentes - especialmente dos que tinham garantido o direito de se manterem na primeira divisão, de acordo com o que previa o regulamento de 1987 - colocaram em dúvida a realização da competição de 1988. Eduardo Vianna, conhecido pelo apelido de "Caixa d´Água", presidente da FERJ (Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro), tinha uma proposta para que a primeira divisão fosse disputada por 24 clubes - algo totalmente em desacordo com as resoluções do CND, embora pudesse ser "conciliadora".

    Outra opção - muito menos provável, é verdade - era a CBF mudar de idéia e exigir o cumprimento do regulamento de 1987 também nessa questão - inclusive, o mesmo já previa 20 clubes na primeira divisão em 1988, e portanto estava dentro das exigências das resoluções do CND. Seria mais um grande revés para o C13 e para os clubes do Módulo Verde - que sequer tiveram a devida preocupação com o rebaixamento -, mas era algo que poderia ser feito, caso a entidade máxima do futebol nacional assim desejasse - bastava recorrer ao mesmo expediente que fez com que prevalecesse o regulamento na questão do cruzamento para se definir o campeão brasileiro.

    Porém, como naquela época "nem sempre o regulamento era feito para ser cumprido" - aliás, podemos dizer que "era feito para ser rasgado" -, tal alternativa jamais foi cogitada publicamente pela CBF, pois além da possibilidade de causar outra enorme briga com o C13 - o que também colocaria em risco a realização do campeonato -, não era interessante para a própria competição a ausência de clubes como Santos e Corinthians. Além deles, Flamengo e Internacional também corriam algum risco de punição, pelo fato de terem desistido de jogar o quadrangular final - no entanto, como o caso já havia sido discutido no "Conselho Arbitral", e a desistência da dupla ainda estava amparada por liminares na época desses jogos, o risco de uma punição mais grave estava bastante reduzido, embora a CBF estivesse bastante indignada com algumas atitudes do clube carioca.

    Pressionada por todos os lados, fato é que a CBF tinha o compromisso moral de garantir os direitos dos clubes que obtiveram em campo a permanência na primeira divisão - e com isso evitar outra indisposição com os "menos privilegiados". Mas, como podemos ver, a tarefa não era das mais fáceis, e envolvia diversos interesses.

    Para resolver a questão e acalmar os ânimos de uma vez, teve que entrar em cena novamente o famoso "jeitinho brasileiro". E depois de muita discussão, finalmente a CBF, o C13 e o CND fecharam um acordo para que 24 clubes disputassem a primeira divisão em 1988 - conforme já havia sugerido o presidente da FERJ. Vale destacar que, para isso acontecer, foi necessário "rasgar" algumas resoluções do CND - justamente as que permitiram mais poder aos clubes, e que consequentemente geraram toda essa "confusão". Parece piada, mas não é.

    Com todo esse imbróglio resolvido, podemos dizer que todas as partes ficaram satisfeitas com mais essa "virada de mesa". O C13 manteve todos os participantes do Módulo Verde na primeira divisão - incluindo os teoricamente rebaixados Santos e Corinthians -, e a CBF conseguiu cumprir - "com sobras" - o que havia prometido aos clubes do Módulo Amarelo, garantindo oito clubes na primeira divisão, mesmo sem a disputa da "repescagem" prevista em 1987.

    Outra situação que merece ser destacada é que, como a CBF obteve essas "duas vagas a mais" - afinal, apenas seis, de fato, estavam garantidas pelo regulamento aos clubes daquele módulo -, acabou destinando uma delas ao América do Rio de Janeiro, que não havia disputado o campeonato em 1987 por não concordar com o regulamento - fato que também era passível de punição. Com isso, a Inter de Limeira, oitava colocada do Módulo Amarelo em 1987 - que pelo regulamento ainda precisaria passar pela repescagem para continuar sonhando com a permanência na primeira divisão -, foi preterida e teve que disputar a segunda divisão no ano seguinte.

A Taça de Ouro e a Taça de Prata | O início da era Ricardo Teixeira

 

 

 

Home   |   Mais Rankings   |   Sistema de Pontuação   |   Competições   |   Contato

 

Ranking de Clubes Brasileiros - Todos os direitos reservados